MACHADO DE ASSIS E A PROFECIA IDIOCRÁTICA





Por Mirtes Oliveira
  
Com o intuito de incentivar a leitura das principais obras da literatura brasileira entre os nossos jovens, a escritora Patrícia Secco criou e desenvolveu um projeto que se encarregará tornar mais “fácil” a leitura dessas obras, por meio de uma “simplificação” de vocabulário e construções, nos textos originais. Segundo a matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo, o projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, terá seus primeiros dois títulos publicados agora, no mês de junho: "O Alienista", de Machado de Assis (publicado originalmente em 1882), sairá em nova versão, juntamente com "A pata da gazela", de José de Alencar (publicado originalmente em 1870). A tiragem será de 600 mil copias que serão distribuídas gratuitamente pelo Instituto Brasil Leitor.
"Entendo porque os jovens não gostam de Machado de Assis. Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase." Diz Patrícia. "A ideia não é mudar o que ele diz, só tornar mais fácil." Acrescenta.
Especializada em literatura infantojuvenil, a escritora já publicou mais de 250 obras, entre elas, um livro sobre a infância de Tarsila do Amaral. É considerada uma militante na área de facilitar o acesso aos livros no Brasil.
Nas redes sociais a notícia dividiu opiniões, contra ou a favor, os leitores foram “incomodados” a refletir sobre os meios mais eficientes para fazer despertar, nos jovens brasileiros, o interesse pela leitura dos clássicos. Muitos veem o método de Patrícia como uma forma de “nivelamento por baixo – “Se uma pessoa não sabe o que é ‘sagacidade’, ela não precisa da simplificação de Machado de Assis: precisa de um dicionário. Simples assim.” – diz um dos internautas, referindo-se à palavra que será substituída por “esperteza”, no texto de Machado. Inclusive, está circulando na rede um abaixo assinado intitulado: "Ministério da Cultura do Brasil: Impeça a alteração das palavras originais nas obras da língua portuguesa". Outros defendem que qualquer método de incentivo à leitura é válido.
A simplificação de obras clássicas é uma prática comum em vários países, inclusive no Brasil, já o uso de dinheiro público para a elaboração desse tipo de material, ainda por cima com o propósito de distribuí-lo entre estudantes, isso já é “sagacidade” brasileira.

Os resultados, o futuro mostrará. Considerando nossos “pensadores contemporâneos”, esperemos que essa não seja uma contribuição do nosso Ministério da Cultura para o cumprimento da profecia “idiocrática” de Mike Judge, em seu filme de 2006, “Idiocracy”. Talvez o momento seja oportuno para uma “sessão pipoca”.

(Publicado no Jornal Contraponto em maio de 2014.)

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