O PREÇO DO LIVRO NO BRASIL





Por: Mirtes Oliveira

Como compradora de livros compulsiva assumida, já fazia um tempo que uma questão andava me incomodando: Por que, muitas vezes, sai mais barato comprar uma edição de luxo importada do que uma edição popular brasileira?
Mesmo sabendo que tudo no Brasil é mais caro, decidi pesquisar para entender melhor como funciona o mercado editorial.
Basicamente, dois tipos de custos influenciam o preço do livro: o custo fixo e o custo variável. O primeiro envolve a preparação, a organização e a edição. O segundo, gráfica e papel. Se a tiragem de uma edição for de 2.000 ou de 50.000, o custo fixo será o mesmo, portanto, quanto maior a tiragem, mais o custo fixo se diluirá e mais barato ficará o preço final do livro. E é isso o que faz o nosso livro sair mais caro, enquanto em alguns países a tiragem de uma primeira edição é de 10.000, ou 30.000, aqui, a tiragem média é de 2.000 exemplares. E isto se dá, simplesmente, porque compramos/vendemos poucos livros. Em um país onde a média de livros lidos por pessoa, por ano, é de 4 livros incompletos ou 2,1 completos (2011), somos o 8º país que mais publica, mas que pouco vende. E, sendo as vendas o que determina a tiragem, é certo, portanto, dizer que o livro no Brasil é mais caro do que o livro importado porque o povo brasileiro lê pouco.
Considerando o preço de capa, que já sai determinado pela editora, três custos compõem esse total. O primeiro é o custo do próprio livro: industrial e editorial, o segundo é o direito autoral e o terceiro é o custo da empresa. Se, por exemplo, o preço final do livro for de R$ 8,00, para uma tiragem de 3.000 exemplares, as editoras, geralmente, multiplicam esse valor por 5. Então, se a livraria recebe um livro para ser vendido por R$ 40,00, ela devolverá R$ 20,00 para a editora. O direito autoral é de 10% do preço de capa, ou seja, R$ 4,00 (pois é, só isso!), que deverá ser repassado pela editora, ficando ela com R$ 16,00 (custo de produção: R$ 8,00; lucro da editora: R$ 8,00).
E, sim, o público leitor brasileiro está crescendo, mas em quantidade, não em qualidade. Autoajuda, best-sellers, livros religiosos e didáticos são os líderes de vendas. Já a literatura continua com pouca saída. E, mesmo que, digamos, um best-seller tenha uma tiragem maior, a editora acaba decidindo manter seu preço alto para compensar as poucas vendas nas demais categorias.

Mas, será que o livro, comparado a outros bens de consumo, é realmente um artigo caro? Quanto estamos dispostos a gastar em outras formas de lazer? Segundo o editor Jaime Pinsky, o público brasileiro passou de uma cultura oral para uma cultura digital, sem passar pela cultura do livro. Com a televisão e a internet como as formas de diversão mais populares, o livro adquiriu uma função instrumental ainda mais forte. O público universitário, em sua grande maioria, lê apenas o que lhe servirá para sua especialidade, mas o livro como fonte de prazer, acabou perdendo um pouco do pequeno espaço que possuía.

(Publicado no Jornal Contraponto em junho de 2014.)

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