BOOKTUBE: O CLUBE DO LIVRO DA INTERNET
Por Mirtes Oliveira
“Ana tinha amor pelos
livros, poucos amigos e uma câmera. Os amigos de Ana jogavam videogame. Ana falava
sobre livros para sua câmera e, com isto, ganhou um milhão de ‘amigos’ ao redor
do mundo.”
Essa é basicamente a
história por trás de todo “vlogueiro literário”, ou “booktuber”, categoria que está tomando conta da rede e já
conquistou os internautas brasileiros.
O fenômeno aconteceu
como uma reação em cadeia, cuja origem é desconhecida. É muito fácil ter um
canal no YouTube, basta uma câmera (mesmo
a mais simples), acesso à internet e algo a falar. Mas, o que destaca essa
modalidade, é a motivação por trás dela: jovens que adoram ler, mas que não têm
com quem compartilhar suas experiências de leitura. E essa facilidade de troca
de ideias, que a internet nos proporciona, formou o território ideal para a
reunião desses leitores solitários, troca que pode ser feita por escrito, nas
postagens, ou através de vídeos, o que acaba impulsionando o surgimento de
novos canais.
A ideia é: falar sobre
livros de forma despretensiosa, e é assim, inclusive, entre os vlogueiros que
possuem doutorado em literatura. Eles deixam a formalidade para a academia e
compartilham, em seus vídeos, o entusiasmo pela leitura.
Aqui, no Brasil, a
pioneira e líder de audiência é a professora de inglês e tradutora, Tatiana Feltrin.
Seu canal, Tiny Little Things, criado
em 2007, conta hoje com mais de 80 mil inscritos.
Percebendo esse
sucesso, as editoras abriram as “parcerias”, antes exclusivas para os blogs,
também para os vlogs. Todos os meses, os parceiros recebem livros que devem ser
lidos e, então, comentados nos vídeos. A intenção é, além de receber feedback, divulgar seus lançamentos.
Exigente, porém aberta
a recomendações, gostando ou não da obra lida, adquirida por ela mesma ou
recebida como cortesia de editoras, Tatiana está lá para falar o que pensa, doa
a quem doer.
Inspirados por Tatiana
e por booktubers estrangeiros, já temos,
no Brasil, dezenas de canais literários de grande popularidade, como O Pintalssilgo, Show do Luan, Vamos falar
sobre livros?, Lido Lendo, Minha estante, JotaPluftz, Cem anos de literatura,
Dignidade não cabe aqui, Olhos de Ressaca, entre outros. Alguns
vlogueiros, viciados em comprar livros, outros, usuários assíduos de
bibliotecas públicas, eles formam uma calorosa comunidade virtual onde todos
são bem-vindos, seja como comentaristas, seja como colegas booktubers.
É reconfortante ver
jovens falando, com tanta paixão, sobre autores que vão de John Green a Machado
de Assis (em texto original!). Isso é prova de que eles querem mais do que um
texto “facilitado”. Eles trocam ideias sobre best-sellers e grandes clássicos da
literatura universal como quem troca figurinhas da “Copa do Mundo da FIFA”, de
forma prazerosa, divertida... Acessível! Booktubers
do mundo inteiro estão prestando, ainda que despretensiosamente, um grande serviço
de incentivo à leitura. E os brasileiros, em particular, estão de parabéns!
(Publicado no Jornal Contraponto em maio de 2014.)
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